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12 de fevereiro de 2011

Redes sociais como ferramenta de protesto

Arma de mudança? 

  1. Muita gente vem incensando as mídias sociais como elementos revolucionários fundamentais nas rebeliões que vêm ocorrendo no norte da África. Claro que o uso de Twitter e Facebook ajuda nas mobilizações e na divulgação das reivindicações de grupos rebeldes, mas também parece evidente que o papel deles vem sendo exagerado por alguns setores.
  2. Entrando neste debate, trago para você um texto de MARKO PAPICSEAN NOONAN, especialistas da STRATFOR, consultoria voltada para a área de política internacional e segurança. O trabalho é publicado com autorização expressa daquela empresa. O texto discute os usos das mídias sociais, o combate que governos e instituições fazem ao uso delas e sua importância (ou falta de) para o surgimento de lideranças.

  3. "Depois de completamente bloqueada por dois dias, a internet foi restaurada no Egito na semana passada. Autoridades egípcias desconectaram o último provedor de internet (ISP, na sigla em inglês) ainda em operação em 31 de janeiro em meio a crescentes protestos ao redor do país. Os outros quatro provedores do Egito _Link Egypt, Vodafone/Raya, Telecom Egypt e Etisalat Misr_ foram bloqueados em 27 de janeiro, enquanto a crise se alastrava. Analistas imediatamente reconheceram que se tratava de uma resposta à potencialidade organizacional dos sites de mídias sociais, cujo acesso público o Cairo não foi capaz de bloquear inteiramente.
  4. O papel das mídias sociais em protestos e revoluções tem atraído a atenção da mídia nos últimos anos. O consenso atual é o de que as redes sociais são capazes de facilitar a mudança de um regime. E um pressuposto subjacente é o de que as mídias sociais dificultam a manutenção de um regime autoritário _mesmo em autocracias endurecidas como a do Irã e a de Mianmar_ e que poderiam dar início a uma nova onda de democratização ao redor do mundo. Em uma entrevista de 27 de janeiro, disponível no YouTube, o presidente dos EUA, Barack Obama, chegou a incluir as redes sociais entre as liberdades universais como a liberdade de expressão.
  5. As mídias sociais sozinhas, no entanto, não instigam revoluções. E não são mais responsáveis pelas recentes manifestações na Tunísia e no Egito do que as fitas cassetes dos discursos do Aiatolá Ruholla Khomeini foram para a revolução de 1979 no Irã. As mídias sociais são ferramentas que permitem a grupos revolucionários baixar os custos de participação, organização, recrutamento e treinamento.
  6. Mas, como qualquer ferramenta, elas têm pontos fracos e pontos fortes. Além disso, sua eficiência depende de como os líderes as usam e da acessibilidade que as pessoas que sabem como usá-las têm a elas."

  7. Alcance da mensagem
  8.  
  9. "Tanto a Tunísia quanto o Egito têm assistido ao aumento do uso de redes sociais como o Facebook e o Twitter com a finalidade de auxiliar na organização, na comunicação e, sobretudo, no início de campanhas e ações de revolta civil nas ruas. O Movimento Verde iraniano em 2009 foi seguido de perto pela mídia ocidental por meio do YouTube e do Twitter, e este último ainda emprestou à revolução da Moldávia de 2009 o seu nome, a Revolução do Twitter.
  10. Analistas internacionais _e particularmente a mídia_ estão mesmerizados pela habilidade de rastrear eventos e cobrir diversas localidades, perspectivas e demografias em tempo real. Mas uma revolução é muito mais do que vemos e ouvimos na internet: toda revolução requer organização, financiamento e apelo às massas. As mídias sociais, sem dúvida, oferecem vantagens na rápida e ampla disseminação de mensagens, mas também são vulneráveis a táticas anti protesto do governo (leia mais sobre isso abaixo). E, embora a eficiência das ferramentas dependa da qualidade da liderança de um movimento, ser dependente de mídias sociais pode, na verdade, impedir o desenvolvimento de uma boa liderança.
  11. O segredo de qualquer movimento de protesto é inspirar e motivar indivíduos a sair do conforto de seus lares rumo ao caos das ruas para enfrentar o governo. As mídias sociais permitem aos organizadores reunir pessoas com ideais parecidos em um mesmo movimento a um custo muito baixo, mas não levam necessariamente essas pessoas a agir. Em vez de participarem de reuniões, seminários e comícios, pessoas descomprometidas podem se unir a um grupo do Facebook ou seguir o feed de notícias do Twitter em casa, o que lhes confere alguma medida de anonimato (embora as autoridades possam facilmente rastrear um endereço de IP), mas não necessariamente as motiva a estar fisicamente nas ruas e oferecer energia a uma revolução. No final do dia, para um movimento de protesto movido por meio de mídias sociais obter sucesso, é preciso transformar membros de redes sociais em ações existentes nas ruas.
  12. A internet permite que um grupo revolucionário espalhe amplamente não apenas a sua mensagem ideológica mas também o seu programa de treinamento e o seu plano operacional. Isso pode ser feito por e-mail, mas as mídias sociais ampliam a exposição e aceleram o crescimento de um grupo conforme redes de amigos e de seguidores compartilham a informação instantaneamente.
  13. Vídeos do YouTube que expliquem os princípios e as táticas de um movimento permitem aos líderes transmitir informações importantes a seguidores distantes sem que seja preciso eles se deslocarem. (Em termos econômicos, isso é mais seguro e eficiente para os movimentos que se esforçam para conseguir financiamento e permanecer no anonimato, mas o nível do treinamento que podem oferecer é limitado. Algumas coisas são difíceis de aprender por vídeo, o que leva os organizadores de protestos a enfrentar os mesmos problemas que as bases jihadistas, que dependem amplamente da internet para se comunicar.) As mídias sociais também tornam mais ágeis o levante e o alastramento de ações, como um incêndio. Em vez de organizar campanhas em torno de datas fixas, movimentos de protesto podem alcançar centenas de milhares de adeptos com uma única publicação no Facebook ou um único feed de notícias no Twitter, lançando em segundos um chamado massivo à ação.
  14. Com custos de organização e comunicação mais baixos, um movimento acaba dependendo menos de fundos externos, o que lhe dá a sensação de ser um movimento puramente nativo (sem financiadores estrangeiros) e de grande apelo. De acordo com a página de eventos do Facebook, o Movimento 6 de Abril no Egito teve cerca de 89.250 pessoas reivindicando participação em um protesto de 28 de janeiro quando, na realidade, um número bem menor de manifestantes estava presente, segundo estimativas da Stratfor. O Movimento 6 de Abril é composto por uma minoria de egípcios _ os que têm acesso à internet_, que a OpenNet Initiative estimou em agosto de 2009 ser equivalente a 15,4% da população. Embora esse número seja maior que o dos que acessam a internet na maioria dos países africanos, é menor que o dos que o fazem na maioria dos países do Oriente Médio. Taxas de inserção da internet em países como o Irã e o Qatar estão em torno de 35%, o que representa ainda uma minoria da população. Consequentemente, um movimento revolucionário bem-sucedido precisa atrair a classe média, a classe trabalhadora, os aposentados e os segmentos rurais da população, grupos que, provavelmente, não têm acesso à internet na maioria dos países em desenvolvimento. Caso contrário, um movimento poderia rapidamente se achar incapaz de controlar forças revolucionárias que ele mesmo impulsionou ou ser acusado por um regime de representar o movimento de uma facção sem representatividade. Esse pode ter sido o mesmo problema que manifestantes iranianos vivenciaram em 2009.
  15. Organizadores de protestos devem não apenas expandir suas bases para além dos usuários de internet mas também ser capazes de atuar em brechas do governo. Após o bloqueio da internet no Egito, manifestantes conseguiram distribuir panfletos táticos impressos e usar aparelhos de fax e telefones fixos para se comunicarem. Criatividade e liderança rapidamente se tornam mais importantes do que mídias sociais quando o governo começa a usar táticas anti protesto, que são bem desenvolvidas mesmo nos países mais fechados." 
  16. Armas da repressão
  17. Como qualquer outra ferramenta, as mídias sociais têm seus empecilhos. Baixar o custo de comunicação também implica diminuir a segurança operacional. Mensagens do Facebook podem estar abertas para todos verem, e mesmo mensagens privadas podem ser visualizadas por autoridades por meio de um mandado de busca em países mais abertos ou por meio de pressão exercida sobre empresas de mídia social em países mais fechados. Na verdade, mídias sociais podem rapidamente se transformar em um instrumento de coleta de informações valiosas. A dependência de mídias sociais pode também ser explorada por um regime disposto a bloquear em um país o acesso simultaneamente à internet e às redes de mensagens de texto domésticas, como ocorreu no Egito.
  18. A habilidade dos governos de monitorar e neutralizar as mídias sociais desenvolveu-se juntamente com a capacidade de seus serviços de inteligência. Para obter uma licença de funcionamento em qualquer país, sites de redes sociais precisam chegar a algum tipo de acordo com os governos locais. Em muitos países, isso envolve o acesso aos dados e à localização dos usuários e às informações sobre as redes sociais. Os perfis do Facebook, por exemplo, podem ser uma bênção para os funcionários de inteligência do governo, que podem usar as atualizações e as fotos a fim de localizar e fiscalizar as atividades de movimentos e identificar conexões entre vários usuários, entre os quais podem estar alguns suspeitos. (O Facebook recebeu financiamento da In-Q-Tel, empresa de investimentos da CIA, e muitos serviços de inteligência ocidentais destinam verba para o desenvolvimento de tecnologias capazes de garimpar informações ainda mais detalhadas sobre usuários da internet.)
  19. O dilema enfrentado por líderes de manifestações ao usar as mídias sociais é o de precisarem se expor a fim de disseminar suas mensagens às massas (há, porém, maneiras de mascarar endereços de IP e evitar o monitoramento de governos, usando, por exemplo, servidores proxy). Seguir todas as pessoas que visitam a página de uma organização de protesto pode estar além da capacidade de muitos serviços de segurança, dependendo da popularidade de um site, mas um meio de comunicação desenvolvido para alcançar as massas está aberto a todos. No Egito, quase 40 líderes do Movimento 6 de Abril foram presos no início das manifestações, e isso aconteceu possivelmente em virtude da identificação e da localização deles por meio do rastreamento de suas atividades na internet, particularmente pelas suas várias páginas do Facebook.
  20. Uma das primeiras organizadoras do Movimento 6 de Abril tornou-se conhecida no Egito como a "menina do Facebook" após ter sido presa no Cairo em 6 de abril de 2008. O movimento foi originalmente organizado para apoiar um protesto de trabalhadores realizado naquele dia em Mahalla, e a organizadora Esraa Abdel Fattah Ahmed Rashid acreditou que o Facebook fosse um meio conveniente para, na segurança do seu lar, organizar manifestações. A sua saída da prisão foi transmitida pela TV no Egito como um evento de forte comoção _foram mostradas imagens dela e da mãe abraçadas e aos prantos. Rashid foi, então, expulsa do grupo e não tem mais acesso à senha da página do Facebook do Movimento 6 de Abril. Outro organizador a chamou de "covarde", afirmando que ela não teria organizado o protesto se soubesse que seria presa. A história de Rashid é um bom exemplo dos desafios postos a quem usa as mídias sociais como uma ferramenta para mobilizar protestos. É fácil "gostar" de algo ou de alguém no Facebook, mas é muito mais difícil organizar um protesto nas ruas, onde alguns manifestantes serão possivelmente presos, feridos ou mortos.
  21. Além de monitorar sites de movimentos, governos também podem bloqueá-los. Isso tem sido comum no Irã e na China em tempos de manifestações sociais. Mas bloquear o acesso a um site específico não é capaz de impedir que usuários com conhecimento de tecnologia usem redes virtuais privadas ou outras tecnologias para acessar endereços de IP liberados fora do país e, assim, acessar sites proibidos. Em resposta a esse problema, a China bloqueou o acesso à internet em toda a região autônoma de Xinjiang, local das revoltas uigures em julho de 2009. Mais recentemente, o Egito seguiu a mesma tática no país inteiro. Como muitos países, o Egito tem contrato com provedores que permitem ao governo bloquear a internet ou, quando os provedores são de propriedade estatal, dificultar a vida de movimentos que têm a sua base na internet.
  22. Os regimes também podem usar as mídias sociais com suas próprias finalidades. Uma tática anti protesto é espalhar informações erradas, seja para assustar os manifestantes, seja para atraí-los para um local em que a polícia anti manifestação está à espreita. Ainda não testemunhamos esse tipo de tática de "emboscada", mas o seu uso é inevitável na era do anonimato na internet. Agências do governo em muitos países são especialistas em revirar a internet em busca de pedófilos e aspirantes a terrorista. (É claro que esse tipo de tática pode ser usado por ambos os lados. Durante os protestos iranianos em 2009, muitos apoiadores estrangeiros do Movimento Verde espalharam informações erradas pelo Twitter a fim de enganar analistas internacionais.)
  23. A forma mais efetiva de o governo usar as mídias sociais é monitorar diretamente a comunicação na internet entre organizadores de protestos e seus seguidores ou inserir informações no grupo, neutralizando a ação de manifestantes sempre que forem encontrar-se. As autoridades que monitoram manifestações nos encontros da Organização Mundial do Comércio e do G8, assim como nas convenções nacionais do Partido Democrata e do Partido Republicano nos EUA, têm feito isso com sucesso. Durante os últimos dois anos no Egito, o Movimento 6 de Abril tem encontrado a polícia pronta e à espera deles em todos os locais de protesto. Foi somente nas últimas semanas, com o crescimento do apoio popular, que o movimento se transformou em um grande desafio para os serviços de segurança.
  24. Um dos maiores desafios para os serviços de segurança é ajustar-se às rápidas mudanças da internet. No Irã, o regime rapidamente bloqueou o Facebook, mas não notou a potencialidade do Twitter. Se as mídias sociais têm sido uma ameaça clara aos governos, a atualização e o aprimoramento contínuos dos planos para desestruturar novas tecnologias de internet se tornam cada vez mais vitais para os serviços de segurança.
  25.  
  26. Lideranças emergentes
  27. "Não há como negar que as mídias sociais representam uma ferramenta importante para que os movimentos de protesto mobilizem efetivamente seus adeptos e transmitam suas mensagens. Como mencionado acima, a eficiência da ferramenta depende, no entanto, dos seus usuários, e o excesso de confiança pode se transformar em grave prejuízo.
  28. Essas ferramentas podem afetar a evolução das lideranças. Para liderar um movimento de protesto eficazmente, os líderes de uma organização precisam se arriscar fora do ciberespaço e aprender o que significa enfrentar o poderio de contraespionagem de um regime em outros lugares, para além do mundo virtual. Ao realizar seminários e entrar em contato direto com as pessoas, os líderes de um movimento aprendem estratégias diferentes que funcionam melhor em estratos sociais diferentes, além de aprenderem a cativar públicos maiores. Essencialmente, os líderes de um movimento que exploram o uso de mídias sociais devem correr os mesmos riscos daqueles que não contam com esse tipo de mecanismo de rede. A conveniência e o anonimato parcial das mídias sociais podem levar um líder a perder a motivação de sair às ruas e fazer as coisas acontecerem.
  29. Além disso, uma liderança pautada na realidade física é a que constrói e se fixa em um plano de ação estabelecido. O problema é que as mídias sociais, ao estarem disponíveis a um número maior de adeptos, subvertem a liderança de um movimento. Isso significa que um chamado à ação pode se alastrar como uma labareda em chamas antes de o movimento estar bem preparado, sendo capaz de pôr em risco a sua sobrevivência. Em vários aspectos, o Movimento Verde iraniano é um exemplo perfeito disso. O chamado à ação levou às ruas durante os protestos um grupo majoritariamente formado por estudantes que se autos selecionaram. O regime reprimiu as ações duramente, acreditando que o movimento não fosse suficientemente grande a ponto de lhe representar uma ameaça real.
  30. Uma liderança muito dependente de mídias sociais pode isolar-se de movimentos políticos alternativos com os quais é capaz de compartilhar o mesmo objetivo de mudança de um regime. Esse é especialmente o caso quando outros movimentos não são "movimentos jovens" e, portanto, não tão aficionados por tecnologia. Isso pode criar sérios problemas uma vez que a revolução tenha sucesso e um governo interino precise ser criado. O movimento sérvio Otpor (Resistência) teve sucesso na revolução democrática sérvia de 2000 precisamente porque conseguiu unir uma oposição desigual formada por forças pró-Ocidente e nacionalistas. Mas, para facilitar o desenvolvimento desse tipo de coalizão, os líderes têm de se afastar de computadores e celulares e entrar em fábricas, plantações de arroz e outros lugares com grande número de pessoas, nos quais normalmente não gostariam de estar. Isso é algo difícil de fazer durante uma revolução, quando tudo está em curso e a insegurança pública é grande, especialmente em relação àqueles que afirmam estar liderando uma revolução.
  31. Mesmo quando tem um plano claro, um líder aficionado por mídia pode não ter sucesso. Por exemplo, Thaksin Shinawatra, ex-primeiro-ministro da Tailândia e magnata das telecomunicações, usou seu poderio para realizar conferências de vídeo em estádios lotados e lançar duas ondas massivas de protesto envolvendo cerca de 100 mil apoiadores contra o governo tailandês em abril de 2009 e em abril e maio de 2010. Mesmo assim, ele não conseguiu tomar o poder e continua a ser uma voz desencarnada, capaz de balançar o barco, mas incapaz de assumir o seu leme.
  32. O bloqueio à internet não diminuiu o número de manifestantes egípcios nas ruas. De fato, os protestos apenas cresceram conforme sites e a internet eram bloqueados. Se há condições propícias para uma revolução acontecer, as mídias sociais não parecem ser capazes de mudar isso. A simples presença de um grupo na internet não o torna mais popular ou ameaçador. Há grupos no Facebook, vídeos no YouTube e publicações no Twitter sobre os mais diversos assuntos, mas isso não os torna populares. Uma publicação de um usuário skinhead neonazista feita do porão da casa da mãe dele em Illinois não começará uma revolução _independentemente da quantidade de posts ou do conteúdo do que foi expresso. O clima deve ser propício para uma revolução, decorrente de problemas como inflação, deflação, escassez de alimentos, corrupção e opressão. E a população precisa estar disposta a se mobilizar. Por serem um novo meio de comunicação com vantagens e desvantagens, as mídias sociais não são capazes de criar movimentos de protesto. Elas somente permitem aos membros desses grupos comunicar-se mais facilmente.
  33. Outras tecnologias, como o rádio de ondas curtas, que também podem ser usadas para a comunicação e a mobilização, estão disponíveis para manifestantes e revolucionários há muitos anos, assim como a internet, que é a base do desenvolvimento tecnológico, capaz de permitir que a comunicação ocorra de forma rápida e ampla. A popularidade das mídias sociais, um entre os vários benefícios da internet, pode ser usada pela mídia internacional como meio de observar acontecimentos a distância. Podemos assistir agora ao desenvolvimento de um protesto em tempo real, sem precisarmos esperar até que todas as notícias sejam organizadas e impressas no jornal do dia seguinte ou transmitidas durante os noticiários noturnos. A percepção ocidental costuma ser facilmente influenciada por manifestantes fluentes em inglês e aficionados por internet, que podem representar apenas uma pequena parcela da população de um país. Isso é ainda mais significativo em países autoritários em que a mídia ocidental não tem outra opção senão recorrer ao Twitter e ao YouTube para informar sobre uma conjuntura perigosa, aumentando assim a importância concedida às mídias sociais.
  34. No Oriente Médio, onde a penetração da internet está abaixo de 35% (com exceção de Israel), se um movimento crescesse a ponto de causar mudanças, as adesões ocorreriam por boca a boca, não por redes sociais. Ainda assim, o aumento de conectividade da internet cria novos desafios para líderes de Estado, que têm provado ser mais do que capazes de controlar formas mais antigas de comunicação. Esse não é um desafio insuperável, como mostrou a China, mas, mesmo no caso da China, há uma inquietação cada vez maior sobre a capacidade dos usuários de internet de burlar mecanismos de controle e divulgar informações proibidas.
  35. As mídias sociais representam apenas uma ferramenta entre muitas que um grupo de oposição pode usar. Movimentos de protesto são raramente bem-sucedidos se liderados do porão da casa de alguém por meio de uma arena virtual. Os líderes precisam ter carisma e vivência de rua, como líderes de qualquer organização. Um grupo revolucionário não pode depender de seus líderes mais aficionados em internet para promover uma revolução bem-sucedida mais do que uma empresa pode depender do seu departamento de informática para vender seus produtos. Isso faz parte da estratégia geral, mas não pode ser a única estratégia."
  36. Texto publicado com autorização da Stratfor
  37. Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS
  38. Veja a publicação original da Fôlha
  39.  
  40. http://circuitointegrado.folha.blog.uol.com.br/arch2011-02-06_2011-02-12.html

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