14/04/2011 Monopólio do pé-na-bundaDe 2008 para cá, os sismógrafos conjugais do IBGE já mostraram que as fêmeas são responsáveis por 71,7% das separações não consensuais –situação em que um pombinho quer cair fora e o outro senta na margem do rio Piedra e chora. Donde se conclui, definitivamente, que homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final. Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...” Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto borrado da caneta-tinteiro do amor. Fato, amigo absolutista. Às vezes o ponto final vem com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente. Sem mané reticências... Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita. O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim, seu canalha, vagagundo, cachorro. O macho pode até fugir para comprar cigarro na esquina. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Camel sem filtro da covardia e do desamor. Mulher se acaba, mas diz na lata, não trabalha com metáforas nem cartão de crédito. Nesse sentido, paga à vista. Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro. O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada. Nem no Crato...nem em Estocolmo. Nem no Beco da Facada, no Recife, nem na Chácara Flora, San Pablo. Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa. Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava. O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim. O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo. Escrito por Xico Sá �s 12h49 http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/ |
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